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Destruction em BH e no Brasil: o que o Zombie não viu

Posted by Redação Mondo Metal On December - 20 - 2014

 

 

O famigerado Zombie Ritual Fest 2014 terminou no último fim de semana. Mas a polêmica em torno deste, até o ano passado, celeiro quase indelével do underground, ainda vai durar por um bom tempo. Ao que comentam nas redes sociais, pelo menos 17 grupos, dentre nacionais e gringas, retiraram o esquadrão do front, alguns às vésperas da batalha. Venom, Carcass, Whiplash, Stress, Overdose, só para citar uma parcela. Fala-se que a produção do evento contou com o ovo no fiofó da galinha e combinou uma série de pré-requisitos com as bandas, certo de garanti-los apenas com a grana gerada na venda de ingressos. Aí deu merda, os músicos que saíram de cena alegam que não foram 100% atendidos e por isso não tocaram. Verdade ou não, esta é a versão mais quente de gente que esteve lá, dentre integrantes dos grupos dissidentes e headbangers, e que vem sendo falada via Facebook. Ainda prefiro deixar tudo no ar, como possibilidade, tamanho o monte de asneiras que pode ser propalado na web.

 

Não obstante a dúvida, algo de errado aconteceu. E no meio desse furacão de frustrações, revoltas, desacordos e mentiras, estava a lenda germânica, Destruction. Aproveitando uma exaustiva turnê de quase três semanas em solo brasileiro, a apresentação em Rio Negrinho, SC, durante o Zombie, seria na quinta-feira passada, 11. Mas não foi. Os alemães até foram para a cidade, porém não subiram ao palco. A breve explicação na página do trio fala sobre uma quebra de contrato, o que os impedia de tocar. Vamos aguardar uma explicação melhor no futuro, vinda também da produção do ZRF. Mesmo assim, a tour ainda estava na atividade e outras dez cidades receberam muito bem essa representação maior do Thrash Metal teutônico. Uma delas aconteceu no dia 30 de novembro passado, na capital nacional do Metal, BH, no Music Hall. E é sobre esse açoite gostoso que vamos falar agora…

 

Domingo à noite, fim de mês e um dia chuvoso. Ingredientes que desanimaram muitos seguidores da boa música, resultando em um público que pode ser chamado, com boa vontade, de plausível. Algo entre 200 e 300 malucos sortudos, que puderam novamente contemplar a celebração ao estilo mais festeiro e arruaceiro das subdivisões do Metal. Desde o começo dos anos de 1980, o Thrash sempre esteve ligado à farra, chapação e confraternização entre amigos. Claro, de forma bem “carinhosa” nos shows, representada em uma inesperada cotovelada na cara durante o pogo, ou uma bela jucada no meio da roda.

 

 

Levando em consideração toda a aura que a envolve, a noite thrasheira a ser comentada foi muito bem selecionada. Não só pela atração principal, mas também pelas bandas de abertura, ambas mineiras. De Leopoldina, veio a Deathraiser, quatro camaradas que já estão dando o que falar há alguns anos não só no Sul de Minas, como pro lado de cá também, assim como fora das Gerais. Posição muito bem merecida. Thiago Rocha (vocal, guitarra), Ramon Betim (guitarra), Junior Gaetho (baixo), William Fernandes (bateria) foram os alvissareiros da pancadaria, fazendo um barulho de chacoalhar a cabeleira de quem ainda tem.

 

Dá pra dizer que os caras fazem uma parada que mescla o Kreator, na fase Violent Revolution, com o Sepultura no Beneath the Remains (pra mim, o melhor disco de Thrash do mundo!). Mas isso é só para os incautos terem uma ideia do som do quarteto, não seria prudente afirmar que apenas esses dois trampos resumem o potencial musical deles. A rápida Corporation Parasite desceu tanto o cacete no palco que até a bandeira do Destruction, pendurada atrás da batera, não resistiu e caiu, ficando assim até a entrada dos alemães. Inspirados por tocarem na noite, Tiago anuncia que vão mandar um som novo. Lobotomidia, uma crítica ao dominio dos meios de comunicação de massa sobre as pessoas (ops!). Em pouco menos de uma hora os leopoldinenses mostraram que ainda têm muita lenha pra queimar, basta ouvir o debut de 2011, Violent Agression, para ter certeza do que estou dizendo. Thrash or be Thrashed…

 

 

A segunda a subir ao palco é aquela que considero a representação maior do atual Thrash Metal mineiro, ao lado do eterno e imbatível Chakal. Rafael “Rider of Hell” (guitarra), Rivelly “Assassin” (vocal, guitarra), Roberto Reiter (baixo, vocal) e Jonathan Reiter (bateria) mantêm a chama dos anos de 1980 acesa, sem soarem obsoletos. Quando os malucos de Contagem passaram o som com parte da Agent Orange (Sodom), tipo, só pra esquentar, dava pra saber que viria algo especial. Todo o set foi baseado no visceral Unholy Grave, lançado neste ano, o primeiro full length dos caras, que estão na ativa desde 1995. Segundo o guitarrista gente boa, Rafael, ficou uma certa dúvida sobre escolherem o que tocar – a outra opção seria uma passagem pelas outras fases da banda. Mas, no fim das contas, ficou sabiamente decidido que o repertório seria todo o debut, uma forma de homenagear a atual formação, a melhor na trajetória do grupo.

 

Sendo assim, o pau cantou bonito com músicas que rapidinho devem entrar para o panteão do cancioneiro do Thrash mineiro. À exceção da faixa instrumental, quem do público que ainda não havia adquirido o disco teve a oportunidade de ouví-lo ao vivo, muito bem executado. Um trampo que prima pela velocidade e boa forma dos músicos, fica até dificil escolher um ou outro destaque, tamanha a regularidade das performances. É impressionante a celeridade imposta em cada petardo, assim como a técnica aplicada, sem erros perceptíveis e cada um dominando plenamente seu instrumento. Soldiers of Hell foi a que abriu a primeira roda efetiva, beligerante e entusiasmada da noite. Eternal Nightmare e Evil são provas cabais de que o som, por mais Thrash Metal que seja, também flerta com nuances mais clássicas, como a NWOBH. É vendo um show desses caras, em 2014, quase 30 anos após a explosão da bagaça toda em Minas, é que fico orgulhoso por saber que a semente nunca vai deixar de brotar. Be Thrash or Die…

 

 

Chegou a hora da atração principal. Schmier (vocal e baixo) e Mike (guitarra) já estão quase tornando-se mineiros, esta foi a terceira vez deles em BH. Pra completar o time a jurássica dupla alemã trouxe o gigante (tipo, altura mesmo) Vaaver, desde 2010 assumindo as baquetas. E foi justamente o baterista que fez algo inusitado, após um som mecânico no início ele assume o posto, já manda um solo e, minutos depois, entram os seus parceiros para executarem Total Desaster, trazendo o caos para o Music Hall. Em um dicionário online, quando uma palavra específica é procurada, eis que surge a definição: “Composição poética e musical em honra de uma nação, de um heroi, de um partido etc”. E assim foi o show do Destruction, replete de HINOS que homenagearam o sagrado Thrash Metal, algo que eles mesmos ajudaram na sua divulgação e crescimento. Das 18 porradas escolhidas para o set, apenas quatro foram dos dois últimos discos, Day of Reckoning e Spiritual Genocide, de 2011 e 2012. O restante foi retirado desses mais de 30 anos de dedicação à boa música, com a gravação de álbuns emblemáticos, como Infernal Overkill e Eternal Devastation.

 

No começo do texto eu citei a noite como uma festa, regada a cerveja. E pra todo lado que olhava, sempre via alguém “dançando” ao som dos alemães, a maioria com uma lata de Brahma (cara pra danar) na mão. Bangers pré ou pós 40 e uma molecada mais nova, pirando com o que ouvia, mesmo em alguns momentos o som parecer um pouco embaralhado. E sempre no final de cada música ficava a expectativa de saber qual seria a próxima, justamente por ter a certeza que o trio tinha muita coisa legal na carreira. Antes de Black Death, gravada lá em 1984, ser executada pela primeira vez no Brasil, Schimier brincou com um fã que usava camisa da Alemanha, relembrando o 7×1 na Copa. Brincou respeitosamente, agradecendo o cara por vestir a peita. E carisma não faltou para o grandão. Sempre soltava um palavrão ou outro, oferecia bebida para o público e enalteceu as mulheres, dedicando a música Carnivore para elas. Em pouco mais de uma hora, o trio alemão provou que, mesmo após tanto tempo na estrada, ainda está afiado – até os agudos do vocalista seguem com a mesma potência. Pena que por motivos ainda não bem explicados o pessoal de Santa Catarina não teve a sorte de acompanhar mais um grande show naquele que seria o grande evento de Metal do ano. Ainda acho que é meio cedo apontar culpados sobre a lástima que foi o Zombie Ritual 2014. Mas quem errou deve arcar com a responsabilidade de frustrar uma cena marcada por dificuldades em todos os sentidos, para manter-se ativa e forte. Eternal Ban…

 

 

Deathraiser
01 – Intro/Killing the World
02 – Corporation Parasite
03 – Terminal Disease
04 – Everything Dies
05 – Lobotomidia
06 – Screechs From The Silence (Sarcófago)
07 – Thrash or be Thrashed

 

Dunkell Reiter
01 – Unholy Grave
02 – Be Thrash or Die
03 – Eternal Nightmare
04 – Evil Never Dies
05 – Soldiers of Hell
06 – Evil
07 – Midnight Queen (Sarcófago)
08 – Assassin
09 – Nuclear Desaster

 

Destruction
01 – Total Destruction
02 – Thrash Till Death
03 – Nailed to the Cross
04 – Mad Butcher
05 – Armageddonizer
06 – Black Death
07 – Eternal Ban
08 – Life Without Sense
09 – Spiritual Genocide
10 – Release From Agony
11 – Carnivore
12 – Hate is My Fuel
13 – Thrash Attack
14 – Drum Solo/Tormentor
15 – Antichrist
16 – Bestial Invasion
Bis
17 – Course the Gods
18 – The Butcher Strikes Back

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