Holy shit!
Biografias são sempre interessantes de serem lidas. Você não terá certeza se aquilo tudo que está escrito realmente aconteceu e se foi mesmo daquela forma, mas é a verdade daquela pessoa – acredite nela ou não.
A maioria dos fãs só foi descobrir o Pantera a partir do Cowboys From Hell, disco que marcou o fim da fase glam/hair metal e a entrada na nova fase sonora/visual do quarteto sulista norte-americano formado por Phil Anselmo, Darrel “Dimebag” Abbot, Vinnie Paul Abbot e por ele, Rex Brown.
Toda aquela geração de adolescentes dos anos 90 que estava tendo os primeiros contatos com o metal foi atingida em cheio por essa grande banda influenciada por Black Sabbath, Kiss, Van Halen, Judas Priest, Slayer e outros bons sons dos anos 70/80, combinando peso e groove na medida exata.
Qualquer um que preze música pesada e que queira entender o metal dessa época e até mesmo o que viria depois deve ter todos os discos da chamada nova fase em casa: Cowboys From Hell (1990), Vulgar Display Of Power (1992), Far Beyond Driven (1994), The Great Southern Trendkill (1996) e Reinventing The Stell (2000). Foram mais de 20 milhões de discos vendidos, cada vez mais público e reconhecimento da mídia especializada. Como Rex mesmo escreveu, “mudou tudo pra uma caralhada de gente”.
Rex se descreve como o mais talentoso, o cara quieto, caladão, o mais centrado da banda e ponto de equilíbrio entre ele e Phil Anselmo e os ciúmes dos irmãos Abbot que eram comandados por um pai que queria ter controle sobre a banda mesmo depois de deixar de ser seu empresário – o que viria a causar futuros atritos entre as partes.
O livro é detalhado, mas apesar disso não se torna uma leitura chata, pelo contrário. Ele relata detalhes da sua infância na zona rural do Texas, a morte do pai ainda novo, o talento musical reconhecido desde cedo e aprimorado na escola, a primeira banda, a amizade dos tempos de colégio com os irmãos Abbot, etc.
Claro que as partes que todos queremos mesmo saber é sobre o Pantera: a formação da banda (Phil Anselmo, ao contrário do que muitos acham, não é o vocalista original), os primeiros ensaios, turnês dentro de uma velha van caindo aos pedaços, etc. O começo foi sofrido igual a maioria das bandas, comendo o pão que o diabo amassou e sendo até mesmo maltratados por outras bandas mais antigas por conta de ciúmes, tipo o que o Sepultura passou na famosa primeira tour europeia com o Sodom (quem não conhece essa dá uma pesquisada e veja a solução encontrada pelo Max).
O lançamento do Vulgar Display Of Power foi o tiro certo: era a banda certa, no lugar certo e na hora certa. O Metallica havia lançado o Black Album e muitos fãs antigos se sentiram traídos (muito mais depois do Load e Reload…) e estes se voltaram para o Pantera. Pronto, o sucesso do disco era o passaporte para um contrato melhor, turnês maiores e depois como headliners (incluindo a tour pela América do Sul e a impressão deixada de que somos fãs loucos, a participação no festival Monsters Of Rock na Rússia para mais de 1,5 milhão de pessoas, etc.), as festas de arromba e claro, dinheiro, muito dinheiro. E com ele, todos os benefícios e posteriores problemas.
Quem assistiu ao dvd “3 Vulgar Videos From Hell” pôde ter uma boa noção de como a banda levava o conceito de diversão, drogas e bebedeira a sério. Rex não poupa detalhes dos excessos e nem os envolvidos, o que deve ter lhe causado atritos posteriores.
Far Beyond Driven foi o firmamento no hall dos grandes, ao lado de Slayer, Sepultura e Metallica. O céu era o limite.
A banda ia subindo igual foguete, mas os estresses de uma carreira sem pausa e o vício crescente de todos começavam a abalar as estruturas. Phil estava viciado em heroína (chegando a ter uma overdose após o primeiro show de lançamento do The Great Southern Trendkill), Rex cada vez mais alcóolatra e os irmãos Abbot farreando como loucos.
O canto do cisne foi com o lançamento do Reiventing The Steel. As coisas pioraram muito e para complicar, o Down que até então era apenas um projeto paralelo de Phil e amigos, lançava seu segundo disco deixando o Pantera em segundo plano. Rex briga com os irmãos Abbott e a banda entra em coma. Pelo relatado, os caras ainda se gostavam como amigos, mas a rotina de anos de banda, shows, disco atrás de disco, entrevistas e tudo mais, só fazia o stress crescer. Talvez – nunca se saberá – uma parada e uma boa conversa entre eles teria resolvido tudo
O fim mesmo veio de forma dramática, como sabemos: a morte de Dimebag em pleno palco por um fã louco com tiros a queima-roupa. Ali foi a ruptura definitiva, com Vinnie Paul chegando a até mesmo a acusar Rex e Phil Anselmo pela morte do irmão.
Daí em diante Rex relata sua descida ao inferno com mais bebida, mais drogas, problemas familiares, o isolamento dos demais membros, troca de farpas pela imprensa entre Phil e Vinnie, problemas sérios de saúde devido aos anos de excessos, etc. Depois vem a recuperação através de internações em clínicas de reabilitação e o relacionamento com uma antiga namorada.
No fim, Rex explica que apesar de não querer mais tocar com Phil como uma forma de seguir em frente e ainda deixa aberta a esperança de algum dia, quem sabe, voltar a se relacionar com Vinnie Paul – o que chega ser contraditório, pois ele é esculachado diversas vezes no livro.
Rex tem hoje 50 anos e além do Pantera, também gravou com Down, Jerry Cantrell, Cavalera Conspiracy, Crowbar e David Allan Coe. Sua nova banda, Kill Devil Hill, possui dois discos: Kill Devil Hill (2012) e Revolution Rise (2013).
Livro: Verdade oficial nos bastidores do Pantera
Autor: Rex Brown com Mark Eglinton
Editora: Edições Ideal / 242 páginas