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Show do Suicidal Tendencies incendeia BH

Posted by Redação Mondo Metal On September - 11 - 2013

 

oswaldo

 

Estamos quase chegando ao meio de setembro. Já vivenciamos um feriado nacional fatídico, em que a truculência e estupidez de determinados setores da segurança pública casaram-se perfeitamente com o exagero de alguns fanfarrões travestidos de manifestantes em Belo Horizonte e outras cidades brasileiras. Mas o mês em BH não começou assim. Sim, foi violento. Mas uma violência que todos gostamos – aquela que entra no seu ouvido, chacoalhando todo o corpo, que responde com espasmos, socos, chutes e a cabeça girante, tudo sem uma mínima chance sequer de tumulto. A noite do primeiro dia de setembro, um domingo, foi marcada pelo retorno de um dos pais do crossover à Capital: a lenda Suicidal Tendencies, em turnê de lançamento do mais recente disco, 13.

 

Até as vésperas da pancadaria, nada havia sido comentado se haveria banda de abertura. Dias antes do evento, chegou a informação de que o líder suicida, Mike Muir, ao bater um papo com Max Cavalera durante o show do Rio de Janeiro, empolgou-se com a cena daqui e pediu um representante que arcasse com a empreitada. A produtora logo se prontificou a convidar o Hell´s Punch, formada por veteranos da história metálica em BH: Sérgio, Marck, Nilson e Rodrigo, ex-membros do Overdose, Sextrash e Vultur. A grande cartada havia sido dada, promessa de um puta show, à altura do que propunham os californianos.

 

A grande frustração veio nos primeiros acordes. Cover de Megadeth, seguido de cópias de lendas do thrash, como Sepultura e Slayer. Para este último, deveria haver um decreto que autorizasse a parte interessada a tocar apenas um cover por noite, tamanha a discrepância entre qualquer um e o quarteto-maior-banda-de-todos-os-tempos. A curiosidade era imensa para ver músicos que ajudaram a tornar Belo Horizonte como a maior cidade headbanger do País, e a decepção foi do mesmo tamanho ao ver que um grupo competente pra cacete estava se refestelando com material de bandas consolidadas, algo bem típico para quem está começando. Um paradoxo…

 

Mas nem tudo foi perdido. O grande barato foi quando Sílvio convidou Bozó e André Márcio para a execução de Zombie Factory, clássico do que eu chamaria de segunda fase, ou terceira, do maravilhoso e saudoso Overdose. Foi muito bom ver novamente o velho Pedro Amorim, mesmo sem cabeleira, ou trança, e um pouco tímido, na linha de frente. Sem falar na pegada do antigo Zé Baleia (que não merece mais a alcunha), sem dúvida um dos melhores bateristas em longa atividade no Brasil. Em uma entrevista não muito antiga, Bozó disse que adoraria fazer apenas um show com o Overdose, com todos os camaradas antigos, em um lugar pequeno, só pra matar saudade. Esperamos que essa rápida participação supracitada sirva como estimulante.

 

Após pouco menos de meia hora de Hell´s Punch (ufa!), tudo preparado para a atração principal. Esta foi a segunda vez que Mike Muir (vocal), Dean Pleasants (guitarra) e Eric Moore (bateria), visitaram a capital mineira. Em 2012 eles aterrissaram por aqui trazendo ainda o grande Mike Clark, que logo depois sofreu um acidente e vem sendo substituído nas seis cordas pelo competente Nico Santora. Para completar o time, Tim “Rawbiz” Williams mostrou todo o poder de seu baixo e roubou a cena diversas vezes.

 

Show no domingo, a turnê dos caras já havia passado em uma pá de cidades brasileiras, portanto pode ser considerado curto. Mas quem foi não se arrependeu, e ainda ganhou uma dor no pescoço gostosa ao voltar para seu recôndito. No começo dos anos de 1980, surgia nos Estados Unidos um estilo musical que misturava a rapidez do hardcore/punk, com o peso do heavy/thrash metal. E quem foi ao Music Hall viu um dos três pilares dessa fusão – ao lado de D.R.I. e Corrosion of Conformity, o Suicidal é considerado um precursor do famigerado crossover.

 

O set foi mesclado entre porradas clássicas e petardos do novo disco. A abertura foi de incendiar. Depois de uma espécie de “aquecimento”, cada músico brincava com seu instrumento. Quando Mike pergunta: “What the hell is going on around here?”, era a senha para deixar o pau cantar. You Can´t Bring Me Down iniciou uma roda muito consistente, que perdurou por quase todo o show.

 

Após a recente Smash It, foi bom reviver o momento Fúria MTV. Salvo engano, Institucionalized foi executada apenas por aqui, fuçando o set de outras cidades. Mal pra quem é de fora, pois é daquelas músicas que te fazem passar o vídeo na cabeça, Mike reclamando com seus pais e toda aquela pancadaria. Vale ressaltar, ainda, a humildade do “Tio” Muir. Em diversos momentos ele se escondia no fundo do palco, para deixar seus companheiros mostrarem os dotes musicais. Depois ele voltava, correndo e dando seus famosos “jabs” no ar.

 

Uma grande característica do ST é a de flertar abertamente com o soul e o funk norte americanos, proposta que fica muito evidenciada nas suas apresentações. Não pense que estamos falando de algum tipo “big black ass fella cover”, mas apenas de como uma banda de crossover consegue incorporar elementos de algo fora do metal, sem destoar com seu público. Um exemplo disso foi o monstro Tim Williams. O camarada provou ser um baixista com feeling, habilidade e carisma enormes, como disse antes, muitas vezes ele naturalmente ofuscou seus colegas.

 

Na medida em que a noite avançava, mais e mais tirambaços eram dados. Subliminal, I Saw Your Mommy, Cyco Vision e Possessed to Skate reforçaram que, mesmo em tom lúdico, a intenção era mostrar todo o arsenal bélico que o ST criou, nestes 30 anos de existência. Quando o show é bom, a sintonia entre banda e público acontece naturalmente. E todos os músicos tinham a plateia em suas mãos, bastava um sinal e tudo era prontamente seguido – manda quem pode, obedece quem tem juízo.

 

Para finalizar, Pledge Your Alliance teve um encerramento apoteótico. Os próprios membros do grupo ajudaram alguns malucos a subir e tomar o palco. Nos últimos acordes não dava pra visualizar nenhum gringo por ali. Pelo menos uns 50 fãs subiram, recorde quebrado da apresentação do D.R.I., há dois anos. Um grand finale digno de quem sempre esteve baseado na comunhão de tribos, na humildade dos componentes e, acima de tudo, na qualidade da música apresentada. Parabéns ao pessoal da 53 HC por mais uma versão nervosa do Flaming Hell. ST! ST! ST!

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