Sempre que uma banda lança um grande álbum que preenche por completo as expectativas dos fãs, o seguinte vem cheio de novas expectativas. Espera-se no mínimo o mesmo nível do antecessor. A verdade é que um grande álbum é um “peso” para o seguinte. Assim foi com o Metallica ao lançar o clássico absoluto Master of Puppets, com o Slayer e o espetacular Reign in Blood, com o Sepultura ao colocar nas prateleiras o grande Arise e com o próprio Soulfly quando lançou o ótimo (mas não o melhor da carreira) Enslaved. Mas ao contrário das bandas citadas, o sucessor do oitavo álbum do Soulfly não foi nada próximo de um And Justice for All, South of Heaven ou Chaos AD, álbuns que fizeram jus à continuidade do trabalho de cada banda. O que o Soulfly coloca agora no mercado é um passo atrás (ou melhor, dois ou três) no que Max e companhia vinham fazendo até então.
A expectativa em torno de Savages era muito grande, afinal, não era somente o sucessor de um dos melhores discos do Soulfly, mas também o primeiro fora da Roadrunner, casa que abrigou toda a carreira do brasileiro depois da Cogumelo. Mas se isso ainda não fosse suficiente, bastaria dizer que a nova casa da banda é a Nuclear Blast, uma das maiores e mais respeitadas gravadoras de metal do mundo. Por tudo isso, esperava-se mais do novo álbum do Soulfly, muito mais! O disco é, de uma forma geral, diferente de tudo que a banda já fez até hoje. Mas aí vem a boa notícia: Savages é diferente, mas não é new metal! Ponto para Max!
Savages é o menor dos nove discos que Max já fez no Soulfly. São apenas 10 músicas, lembrando um pouco os tempos do velho bolachão, onde a limitação física do LP não permitia muitas faixas. Savages não é um desastre, mas briga forte para ser o pior lançamento do Soulfly. Dá até para animar no começo do disco, verdade! As duas primeiras faixas são perfeitas. Bloodshed – já conhecida dos público há pelo menos um mês – é pesada e faz relembrar grandes momentos da banda. De “quebra” tem a participação de Iggor Cavalera nas baquetas, conferindo à faixa a técnica que o sobrinho ainda não tem. Logo depois vem Cannibal Holocaust, que mais parece ter sido retirada de um álbum do Cavalera Conspiracy. Rápida, pesada e sem firulas. Fallen vem na sequência e dá a impressão de que vai manter o nível das primeiras, mas é à partir dela que tudo fica estranho, sem conexão com os oito álbuns anteriores. Não é ruim, mas é estranha. Ayatollah of Rock´n´Rolla com seus 7’30” é outra que não precisava ter entrado no álbum. Longa, cansativa e com guitarras sem nenhum peso, a não ser por algumas intervenções no meio da música. Master of Savagery é um respiro de alívio depois de duas ótimas e duas estranhas. Finalmente Soulfly volta a se parecer com Soulfly! Spiral e This is Violence fazem o fã se perguntar que banda está tocando. K.C.S. novamente se parece com Soulfly. A parceria de Max com Mitch Harris, guitarrista do Napalm Death, – que apenas canta na música – deu certo. De alguma maneira remete aos primeiros álbuns do quarteto inglês. Daí para frente seria melhor nem comentar, mas vamos lá: El Comegente, faixa bilíngue cantada por Max e Tony Campos naufragou. Fizeram muito barulho por nada. E Soulfliktion é mais do mesmo com Max insistindo em suas eternas auto-referências: Soulfliktion, Infliktion, Cavalera Conspiracy…
Seis constatações:
1. Zyon Cavalera não é David Kinkade! O melhor baterista que o Soulfly já teve até hoje faz muita falta. O “monstro” Kinkade – que antes do Soulfly emprestou sua técnica e velocidade ao Borknagar – trouxe sangue novo para a banda de Max. Infelizmente sua ausência comprometeu as novas músicas. Zyon é esforçado e ainda deve crescer muito – tome aulas com seu tio, menino – , mas ter entrado na banda do pai neste momento foi um passo maior que as pernas. Poderia ter esperado um pouco mais para ganhar experiência em sua banda original – Lody Kong – e, aos poucos, começar a tocar no Soulfly. Agora já foi!
2. Apesar de não mostrar no disco 50% do que sabe, Marc Rizzo é cada vez mais a cara e a sombra de Max Cavalera. Sabe tudo, faz a coisa certa e é fundamental na banda. Não pode sair nunca!
3. Nunca esperei tanto pelo lançamento seguinte como agora!
4. Embora não apareça no track-list (certamente motivo de comemoração de muitos), Soulfly IX está em uma edição especial do álbum juntamente com outra bônus-track, a faixa Fuck Reality.
5. Nem mesmo a produção do Grande Terry Date (Pantera, White Zombie, Prong, Helmet, Ozzy Osbourne) salvou o disco. Savages é fraco e não faz jus a uma banda que lançou Dark Ages e Enslaved. Que venha o novo disco do Soulfly (o que vier depois deste!)
6. Das 10 faixas do novo álbum apenas 4 valem à pena. Assim sendo a nota não poderia chegar nem à metade, por isso o Mondo Metal dá 2 em 5.
Ps: a resenha foi escrita após a primeira audição do álbum. Depois da décima pode ser que a opinião seja outra, mas quando é preciso ouvir 10 vezes para gostar de alguma coisa…
Ouça a faixa Bloodshed