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Mondo Metal conversa com Ricardo Michaelis, diretor de Brasil Heavy Metal

Posted by Redação Mondo Metal On March - 29 - 2016

 

 

A música pesada nem sempre se faz somente de bandas, álbuns e shows. Muito comum no exterior com dezenas de (boas) produções sendo lançadas todos os anos, os documentários com o foco no Heavy Metal vêm ganhando espaço e adeptos no Brasil. Uma das produções mais recentes e que está finalmente próxima de ser lançada (originalmente o filme deveria ter chegado ao mercado em 2011) é o documentário Brasil Heavy Metal que aborda os anos 80 da música pesada nacional. O projeto que começou com recursos próprios – “na raça”, como definiu o diretor Ricardo “Micka” Michaelis, ganhou fôlego em sua reta final ao aderir ao financiamento coletivo. O Mondo Metal conversou com o diretor que falou sobre as dificuldades da produção nacional, contou curiosidades de bastidores e como não poderia ser diferente, se mostrou muito otimista quanto ao resultado final do filme. Confira!

 

 

Mondo Metal: Ricardo, antes de mais nada, muito obrigado por atender ao nosso pedido de entrevista.
Ricardo Michaelis: Toda equipe do Brasil Heavy Metal agradece pois são vocês que estão nos ajudando a fazer essa história.

 

Mondo Metal: O projeto Brasil Heavy Metal não é exatamente novo, já vem sendo desenvolvido há algum tempo. Quais são as maiores dificuldades para se produzir um documentário sobre a música pesada no Brasil?
Ricardo Michaelis: Não tivemos dificuldades quanto a sermos recebidos pelos personagens pois fez muita diferença sermos “do meio” e termos participado dos primeiros momentos no início dos anos 80. A principal dificuldade foi conciliar os dias de trabalho além é claro dos recursos financeiros pois até esta etapa do crowdfunding fizemos tudo com os recursos de nossa produtora Ideia House sem nenhum apoio financeiro adicional, além da grande disponibilidade das bandas nos fornecendo seus arquivos e também auto-custeando a gravação de suas canções para o CD.

 

Mondo Metal: O filme teve, inicialmente, algum tipo de financiamento oficial, estatal ou foi feito “na raça”, como costumamos dizer?
Ricardo Michaelis: Na raça, sem financiamento externo e agora com a alma dos headbangers brasileiros.

 

Mondo Metal: Nesta reta final a produção acabou aderindo ao formato de crowdfunding, que ano após ano ganha força e tem tido um papel importantíssimo no financiamento da cultura nacional. Você concorda que o formato vem suprindo, de certa forma, uma deficiência no financiamento estatal?
Ricardo Michaelis: Este é o mais moderno modelo de financiamento de projetos que surgiu nos últimos anos. Não só na cultura, mas em projetos inovadores em qualquer setor. É uma forma muito honesta e transparente, uma verdadeira troca e se você consegue sensibilizar as pessoas e transmitir confiança naquilo que está fazendo, tudo tende a dar certo. No Brasil ficamos dependentes das leis de incentivo, mas no heavy metal os verdadeiros incentivadores são os headbangers.

 

Mondo Metal: Como documentarista, o que você pode dizer sobre as leis de incentivo à cultura em âmbito municipal, estadual e nacional. A lei é, de fato, para todos?
Ricardo Michaelis: Não conheço a fundo o sistema, mas sabemos que existe uma grande engrenagem por trás e interesses nem sempre tão lícitos. Estamos vivendo um momento especialmente nebuloso no país, mas creio que para o bem pois talvez após isso tudo consigamos enxergar uma luz no fim do túnel.

 

Mondo Metal: A campanha foi bem sucedida e acabou batendo a meta e arrecadando os fundos necessários. Você esperava essa adesão em massa dos fãs ou foi uma surpresa?
Ricardo Michaelis: Sempre confiamos no apoio dos fãs e estamos muito felizes por ultrapassarmos a meta. Entretanto não creio que houve uma adesão em massa pois somos milhares de headbangers no país e ainda não temos 1000 contribuições. Mas nossa campanha ainda não acabou e acreditamos nesta fase final.

 

Mondo Metal: Agora que você tem em mãos um orçamento até maior do que previsto, o que você pretende fazer com a arrecadação excedente?
Ricardo Michaelis: O valor atingido está nos ajudando na fase de finalização, o que na realidade corresponde a aproximadamente 25% do orçamento total do filme. Porém, todo excedente está sendo investido na pós-produção, acabamentos dos materiais e logística. Não há lucro neste projeto, porém grande satisfação e verdadeiro empenho em trazer aos headbangers brasileiros um pouco do que aconteceu naqueles mágicos anos 80.

 

Mondo Metal: Experiências bem sucedidas no exterior como a do documentarista Sam Dunn (Iron Maiden: Flight 666, Global Metal e Metal: A Headbanger’s Journey) trazem algo de positivo para a produção nacional ou servem apenas como referência?
Ricardo Michaelis: São materiais produzidos com alta qualidade e servem de inspiração para nos espelharmos em produzir algo com o mesmo padrão.

 

Mondo Metal: No Brasil nós temos algumas referências de documentaristas que começam a registrar o cenário da música pesada nacional, como a Gracielle Fonseca (Ruídos das Minas e Mulheres no Metal) ou Richardson Pontone (Somos Feitos de Pessoas). Qual o papel e a importância do cineasta na música pesada?
Ricardo Michaelis: Quando nos envolvemos com uma história, o mais importante é a profundidade e honestidade para trazer às pessoas o maior esclarecimento. Se tivermos mais profissionais falando sobre este assunto de forma responsável, certamente faremos um maior número de pessoas conhecerem e respeitarem a história.

 

Mondo Metal: Falando sobre o filme em si, houve uma série de modificações desde a ideia inicial que seria de um documentário puro, para o roteiro final que transformou o filme em uma mescla de documentário e dramaturgia. Gostaria que você falasse um pouco sobre este processo e as mudanças que ocorreram.
Ricardo Michaelis: Após a captação dos depoimentos percebemos que a história repetia-se na vivência da grande maioria dos personagens. Então surgiu a ideia de trazermos a dramaturgia com ficção, mas na realidade trata-se da vida de cada um daqueles garotos. E também por podermos proporcionar e criar algo inédito em se tratando do heavy metal brasileiro. Mas tudo isso também acabou aumentando o tempo de produção, custos e principalmente nossa responsabilidade.

 

Mondo Metal: Reunir essa turma toda de músicos dos anos 80 (alguns já afastados dos palcos há tempos) foi a maior dificuldade de produção?
Ricardo Michaelis: Falar e estar com eles foi uma das partes mais emocionantes. Viajamos por várias cidades, ouvimos “causos”, revivemos momentos… muito bacana. Muitos não estão mais em atividade, mas as lembranças estão frescas pois fizeram parte de um momento marcante de nossas vidas.

 

Mondo Metal: O que de curioso você poderia nos contar sobre a produção do filme?
Ricardo Michaelis: O projeto vai além do filme pois temos o CD com várias músicas inéditas. As sessões de gravações do Harppia e Vírus com suas formações originais foram sensacionais. Outro momento muito bacana foi a gravação do vídeo clipe da música tema do filme. Emocionou a todos! Porém nem tudo foi festa: em uma sessão de gravação externa em São Paulo fomos assaltados e levaram quase todo nosso equipamento. Ficamos apenas com o cartão de gravação de uma das câmeras, mas conseguimos salvar as imagens desta câmera. Foi bem na cena em que retratamos as publicações, fanzines e falamos da Rock Brigade… importantíssima neste período. Todos irão curtir esta cena.

 

Mondo Metal: Minas Gerais tinha bandas de referência no Metal nacional e um selo muito forte, mas São Paulo, por sua vez, tinha um movimento Punk muito presente. A que ponto você acredita que o heavy Metal paulista sofreu essa influência e como isso se espalhou para o Brasil?
Ricardo Michaelis: Na primeira metade dos anos 80 havia uma “rixa” muito forte entre os punks e os headbangers, com agressões e confrontos, mas não observo influência musical e tampouco de comportamento. As bandas paulistas que tinham um estilo mais agressivo, a exemplo do Korzus, foram influenciadas inicialmente pela NWOBHM e em seguida pelo thrash metal americano. Minas Gerais apropriou-se deste estilo mais agressivo e tornou-se referência, e neste momento houve uma relação mais próxima com o punk, mais especificamente com o Ratos de Porão que estava interessado nesta nova sonoridade.

 

Mondo Metal: Minas Gerais e São Paulo foram os dois pilares do Heavy Metal nacional nos anos 80?
Ricardo Michaelis: Temos que incluir aí o Rio de Janeiro com a mesma importância e simultaneamente. Dorsal Atlântica foi referência, Azul Limão, Metalmorphose, Taurus, além do Stress que usou o Rio de Janeiro com base. O que aconteceu foi que na segunda metade da década de 80 Belo Horizonte e a Cogumelo transformaram-se em um polo produtor com grande volume, alinhado a um estilo sonoro que estava sintonizado com os adolescentes que não viam mais tanta graça na primeira geração de bandas, tanto nacionais quanto internacionais.

 

Mondo Metal: E hoje, como você vê a música pesada brasileira em tempos de Internet e música digital?
Ricardo Michaelis: Como em toda industria musical isso tem 02 lados: ajuda a promover mas cria uma quantidade tão grande que por vezes pode causar desinteresse.

 

Mondo Metal: O filme já tem data de lançamento? Como será feito?
Ricardo Michaelis: A princípio não haverá um lançamento nos moldes tradicionais, a menos que consigamos algum patrocínio específico para exibições. O principal objetivo é fazermos com que os fãs que participaram da campanha recebam suas recompensas em casa, assistam e emocionem-se tanto quanto nós ao longo desta jornada.

 

Mondo Metal: Ricardo, o Mondo Metal agradece imensamente por seu tempo e disposição em nos atender. Queremos te dar os parabéns pela iniciativa que entendemos ser da maior importância para a música pesada brasileira. O espaço é seu, fique à vontade para convidar o público para assistir ao filme. Valeu!
Ricardo Michaelis: Nosso convite para que aqueles que ainda não participaram da campanha ainda o façam pois temos alguns dias pela frente. Importante reforçar que não haverá mais recompensas após o término da campanha. É simples: www.brasilheavymetal.com Vamos juntos descobrir “o que uma multidão é capaz de fazer!”.

 

Confira o trailer oficial

 

Confira também o clip oficial

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