Em outubro de 2011 Eduardo Piloni, correspondente europeu do Mondo Metal, conversou em Londres com os ingleses do Evile, uma das bandas responsáveis pela revolução sonora que vem passando o thrash metal nos últimos anos. Piloni acompanhou a banda no show de lançamento do terceiro álbum Five Serpent´s Teeth (em 2013 o grupo lançou seu quarto disco, Skull). De quebra conversou com os integrantes Ol Draker (guitarra) e Ben Carter (bateria) em uma entrevista concedida no backstage da apresentação. O Mondo Metal republica agora a entrevista dentro da série Memória Mondo Metal com as matérias mais importantes feitas nestes 6 anos de vida do site. Confira!
Mondo Metal: Acho que o som que vocês tocam facilitou a inserção da banda dentro do nicho exclusivo do thrash metal oitentista. Mesmo sendo novos, e desde o primeiro instante do primeiro álbum, Evile traz um ar dos anos 80, o espírito, a pegada…
Ben: Pois é, eu acho que isso é muito bom! Têm pessoas com 40, 50 anos que vem apertar nossa mão e dizer “obrigado! ” . Tipo… por quê? ” Vocês fizeram eu me sentir com 15 anos novamente ” . Ah, pra mim isso é missão cumprida.
Mondo Metal: E vocês nem são dessa geração pra soar tão anos 80.
Ol Drake: Eu sou o mais novo, com 27 anos. Não somos novos, mas também não somos velhos.
Ben: O que eu curto mais do thrash é que sempre te faz sentir cheio de energia. E se conseguimos fazer pessoas que ouvem thrash por mais de 25 anos sentirem-se com 15 anos e cheio de energia novamente – trabalho feito! É isso mesmo que queremos, que quem escute fique cheio de gás, energia até o topo e que solte tudo no mosh pit.
Mondo Metal: Vocês também tiveram um par de grandes turnês nos EUA. Gamma Bomb, Kreator, Overkill. Extensos quilômetros, não?
Ben: Putz… nem me fale! 40.000km acho que foi! E aqui encontramos pessoas reclamando ter que entrar num ônibus por meia hora
Ol: É que na América a ética das turnês em sí é tão diferente por conta da extensão do território. Todas as bandas por lá estão acostumadas a ter que dirigir por 10, 15 horas pra chegar no próximo show e tocar 20min, enquanto na Inglaterra carinhas não viajam 2h sem chorar. Isso nos deu um bom tapa na cara. Não é apenas o fato de ter que viajar tanto, mas o nível de trabalho e profissionalismo é potencializado 10 vezes quando se está na América. É difícil e penoso fazer turnê por lá.
Mondo Metal: E qual foi a resposta do público?
Ben: Acho que foi bom, acredito que eles conseguiram nos engolir! (risos)
Ol: Bem, no começo, como somos Ingleses e eles não conheciam muito, deu pra notar que eles ficaram meio que olhando desconfiados numa tipo ” não estou nem aí… ” . Mas um mês depois fizemos uma nova turnê pelo mesmo circuito e notamos que as mesmas pessoas que estavam ” nem aí ” já tinham nosso álbum, camiseta e vinham pra gente ” E ai, pô curto muito seu som! ” . Parece que cada vez que passamos por lá vai ficando melhor.
Ben: As pessoas tendem a levar um tempo pra entender a gente. Não estamos presos restritamente ao thrash old school, mas também estamos distantes da nova escola – estamos meio que presos no meio, algures, acho que somos um pouco únicos nesse sentido.
Mondo Metal: Pois é, nota-se isto principalmente com Infected Nations, segundo álbum, que atingiu o top 100 em UK. Uma sonoridade diferente, com mais diversidade, um outro lado da banda – mais técnico você diria?
Ben: Bem, nosso produtor disse que nós gravamos o álbum antes do segundo (risos). Saímos de um thrash puro pra começar este thrash meio prog, complicado, parece que ficou faltando um álbum de virada pelo caminho! O que acontece é que escrevemos nossas músicas muito cedo em nossa carreira, alguns temas do Enter the Grave (primeiro álbum) foram escritos 4 anos antes do álbum ser lançado, e já com o Infected Nations rolou de colocarmos toda nossa criatividade pra fora e ver o que iria nos trazer. Sei que alguns dos fãs antigos estranharam de princípio, mas a maioria gostaram; talvez forçamos um pouco a barra com esse álbum mas a verdade é que nos abriu a cabeça e nos guiou o caminho até o Five Serpent’s Teeth.
Mondo Metal: Com certeza, vê-se que há uma conexão natural entre os dois álbuns. Agora, como rolou de conseguir o lendário Michael Whelan (autor do cover art de Beneath the Remains, Arise, Chaos AD e Roots do Sepultura, além de Obituary e Stephen King) pra fazer a arte?
Ol: Cara, começou tudo como uma piada entre eu e meu irmão (Matt)! Estavamos ouvindo Beneath the Remains e eu brinquei que eu ia ligar pro Michael Whelan pra fazer nossa arte também. Ele tirou o maior sarro de mim, e aí eu pensei ” por que não? ” . Então eu mandei um email pra ele, falando sobre nosso novo álbum, que eu tinha esse conceito e que conseguia visualizar a arte dele pro álbum, e ele respondeu ” Yeah, tô nessa! ” . Mesmo dizendo que somos uma banda pequena, que provavelmente não tínhamos grana suficiente pra arte dele como Stephen King, ele topou fazer dentro do nosso mísero orçamento porque ele curtiu o projeto (rindo).
Mondo Metal: Os festivais de metal são cada vez mais abundantes. Sendo uma banda estabelecida no fim da década de 2000 e crescendo a cada álbum, vocês sentem que a música pesada está novamente crescendo em geral?
Ben: Certamente, a vibe está muito boa novamente. O problema é que o metal foi meio que degradado por estes sub-gêneros que vieram entre os anos 90 e começo de 2000.
Ol: Poo* Metal hahaha
* poo = cocô, pronuncia-se pu, fazendo referência ao nu metal dos anos 90.
Ben: E muitos outros gêneros de música pesada que tiraram a atenção da mídia e empurrou o metal pro underground, mesmo com as bandas ralando pra cacete pra sobreviver. Cinco, seis anos atrás acho que o metal ganhou uma nova força. É muito massa ver as bandas que começaram isso tudo ainda tocando, ralando em turnês fazendo o maior número de shows possível, o que acaba mantendo a porta aberta pra bandas como a nossa, tá ligado? Nós ainda olhamos pra eles como ídolos, e posso dizer que o que eles fazem hoje ainda acaba nos guiando.
Mondo Metal: Agora vocês estão há apenas algumas horas de oficialmente lançarem o novo álbum aqui em Londres. Dá pra ver a satisfação e alegria que vocês estão sentindo. Como foi a jornada do Five Serpent’s Teeth – estúdio, gravação e agora turnê de lançamento?
Ol: Fantástico! Desde que terminamos Infected Nations eu já comecei a escrever riffs. Foram dois anos de trampo, intenso – e hoje olhando pra trás esse processo todo é como uma névoa, tudo se mistura em uma só coisa. Agora é tipo: “WOW” todo o trabalho será mostrado.
Ben: Foi realmente muito esforço colocado em ensaios e escrevendo música com e sem a banda que quando chegamos no estúdio pra gravar conseguimos fazer tudo muito rápido. Isto também aumenta nossa confiança de subir no palco e fazer o mesmo ao vivo, só temos de ultrapassar essa ansiedade, só quero estar lá em cima, tocando as músicas pra galera ouvir.
Ol: Tipo meio que gritando dentro de nós em expectativa “Curtam isso… vocês vão curtir o som!”.
Mondo Metal: Ansiosos?
Ben: Eu pessoalmente estou muito nervoso hoje! Não que eu não saiba o que estou fazendo, mas é pra mim o começo de uma nova era para o Evile.
Mondo Metal: Uma nova era… orgulhoso por chegar até aqui como chegaram?
Ben: Com certeza, estou realmente muito orgulhoso do que fizemos! É que ainda é muito recente, e é apenas um sentimento de expectativa sobre como vai soar ao vivo e qual vai ser a resposta do público. Uma vez que estivermos lá em cima do palco, tudo isso fica pra trás.
Mondo Metal: será no show. In Memoriam (música dedicada à Mike Alexander) estará neste show?
Ol: Hoje não! Estamos orgulhosos de ter escrito este tema, amamos o resultado final e tudo o que significa, não só para nós mas para todos que algum dia já perderam alguém na vida. Apenas terá de ser um momento mais propício pra tocar esta música. Quando for uma massa maior que podemos fazer um set mais variado talvez. Se tem 500 pessoas gritando por thrash e os riffs rápidos que estão acostumado com Evile, não acho que cairá bem tocar uma “balada”.
Mondo Metal: Mesmo com todos os fãs sabendo o significado da música?
Ol: Pois é, eu não quero que as pessoas tenham de ouvir a música e entrar na vibe tipo: “Ah é pro Mike, vamos entrar na onda…”. Não rola, vamos tocar quando for o momento certo, é um tema contemplativo – tem se der apreciado com mentalidade certa, da maneira certa. Realmente acredito que não seja um tema pra um show de thrash metal, mas isso não que dizer que em um par de anos não fará parte do nosso set-list. Não agora.
Ben: Verdade, quando tiver pessoas suficientes que se importam com a banda e tudo o que o tema tem pra dizer, sim, será meio que uma norma no nosso set-list.
Mondo Metal: Beleza, muito boa sorte daqui a pouco e vejo vocês da roda!
Evile: Valeu Eduardo e Mondo Metal, muito obrigado!
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Assista ao clipe da faixa Cult