English version: click here
Responsável pelos urros guturais de um dos melhores álbuns de Death Metal de todos os tempos, o vocalista Bryan Cegon conta em entrevista exclusiva um pouco de sua história como vocalista antes, durante e depois do lançamento do até então único petardo do Disincarnate: Dreams of the Carrion Kind
Mondo Metal: Vou começar agradecendo-o pela oportunidade de conhecê-lo melhor e pedindo para que você se apresente.
Bryan Cegon: Por nada. Obrigado à vocês pelo interesse e apoio. Sou Bryan Cegon, vocalista do Disincarnate.
Mondo Metal: Quem/o que o inspirou a gostar de Metal e começar a cantar?
Bryan Cegon: Sou metal desde minha infância. Sempre trocava Lps e cassetes com o meu irmão Paul, que é 3 anos mais velho. Era no início dos anos 80 e quando estava no colegial já possuia uma respeitosa coleção de Lps do Sabbath, Ozzy, Priest, Maiden, Dio e etc. Queria aprender a tocar guitarra, mas tenho problemas e coordenação óculo-manual. É um verdadeiro sacrifício conseguir escrever legivelmente. Costumava a acompanhar os meus LPs “gritando” e um dia decidi ser vocalista.
Mondo Metal: Houve muito esforço para conseguir alcançar este seu tom “Death” ultra grave? Você fez aulas de canto?
Bryan Cegon: Nunca fiz aulas. Sou completamente auto-didata. Foi muito mais difícil aprender a cantar com vocal gultural de Death Metal do que alcançar este timbre bem grave. Uma vez, quando via uma fotos das sessoes do “Dream of the Carrion Kind”, percebi que contorcia meu rosto de forma que meu queixo inteiro desaparecia. O problema era que quando usava este método só podia atingir um tom. Como queria ser mais dinâmico, comecei a praticar muito Pantera e Paradise Lost. Acabei me tornando um vocalista bem melhor.
Mondo Metal: Dreams of the Carrion Kind é um dos melhores álbuns de Death Metal de todos os tempos. Uma verdadeira obra prima. Como se envolveu e foi trabalhar com James Murphy, um dos melhores músicos de Death Metal de todos os tempos?
Bryan Cegon: Conhecia o James de vista. Ele trabalhava no famoso Ace’s Record em Tampa, Florida. Em 1992 ouvi dizer que o baixista/vocalista que James havia recrutado pra banda estava detonando no baixo, mas não muito nos vocais. Então convidei-o para assistir um ensaio de minha banda “Infernus”. Mesmo usando um amplificador de baixo como PA ele ficou impressionado o suficiente para me convidar ao Morrisound Studios! O famoso Scott Burns me aprovou e então estava dentro. A propósito, não fui o único integrante do Infernus pelo qual James se impressionou. Jason Carman acabou entrando no Disincarnate também.
Mondo Metal: As letras do “Dreams of the Carrion Kind” são poderosas e intensas. Como/onde se inspiraram e como foram escritas na época?
Bryan Cegon: Era apenas um adolescente na época. Só havia escrito as “típicas” letras Death Metal, que falam de coisas como Satã ou Holocausto. James Murphy me ensinou muito sobre simbolismo. As três músicas da Demo, “Stench of Paradise Burning”, “Soul erosion” e “Confine of Shadows” foram idéias do James. Ele fez a letra da “Stench of Paradise Burning” antes da minha entrada, e eu colaborei na “Soul” e na “Confine”. “Beyond the Flesh” foi praticamente eu, se não me falha a memoria. “In Sufferance” foram idéias do James, mas escrevi parte dela. Escrevemos a “Monarch of the Sleeping Marches” juntos, mas também foi idéia do James. Foi baseada nos quadrinhos do Sandman. A “Entranced” foi minha e foi baseada na série Necroscope do escritor britânico Brian Lumley’s. E finalmente “Sea of Tears, baseada no Hellraiser de Clive Barker. As letras foram um trabalho colaborativo. A melhor maneira de descrever as letras do ‘Dream of the carrion Kind” seria comparando-as à elaboração de uma tese de mestrado em várias materias e livros ao mesmo tempo.
Mondo Metal: Muitos ficaram perplexos pelo fato de que, após sua excellente performance no Disincarnate, você não ter se envolvido com outras bandas. Algum motivo em particular?
Bryan Cegon: Entendo as pessoas terem esta impressão, mas na verdade fiquei na cena por uma década após o lançamento do “Dreams of the carrion Kind”. Foram nos últimos dez anos que não fiz muita coisa. O movimento Metal de Tampa mudou drasticamente no decorrer dos anos noventa. Depois de Korn e da “Nu Metal” mania, ser chamado de Death Metal quase se tornou um insulto. Eu era tão ingênuo na época que pensava que qualquer banda que fizesse conseguiria assinar um contrato quase que instantâneamente. Estava completamente equivocado. Acabei parando de pensar em sucesso. Concentrei-me em compor, gravar e tocar músicas das quais me orgulhava e nada mais. Experimentei efeitos diferentes e outros estilos de vocal, mas sempre Metal.
Mondo Metal: James Murphy mencionou um segundo album do Disincarnate em uma recente entrevista. O que pode nos dizer a respeito?
Bryan Cegon: Não há como dizer mais do que James já disse. Ainda estamos na fase preliminar. Todos os quatro integrantes da formação original estarão presentes. Um dos maiores motivos da minha volta à Florida foi o Disincarnate. Tommy Viator também está de mudança pra cá. Ainda não temos títulos de músicas. Tommy digitalizou uma fita antiga de um de nossos ensaios com riffs para umas três ou quarto músicas. O mais legal é que completaremos músicas que começamos a compor há vinte anos atrás. Acho que este album será uma ótima mistura do passado, presente e futuro. Mal posso esperar pra começar.
Mondo Metal: Você se envolveu em outros projetos musicais. Pode nos contar um pouco a respeito?
Bryan Cegon: Tocava no Infernus com o Jason Carman antes do Disincarnate. Após o “Dreams”, entrei para o PainFactor, um quarteto meio Thrash. Gravamos uma demo com três músicas que ainda tenho muito orgulho. Em breve vou disponibilizá-la gratuitamente pelo site reverbnation.com. Quando o PainFactor acabou, eu e o baixista Chris Mullen formamos o LowLife. Éramos um quarteto e tocávamos um metal com uma pegada industrial. Nossa demo de quarto músicas está disponível pelo reverbnation.com, caso vocês se interessem. Após um fim pacifico, entrei para o Strict-9, uma banda de Rap/Death Metal. Éramos meio na linha do Stuck Mojo. Estive na banda por 8 anos e gravamos dois álbuns: “9 from the 9” em 1997 e “Ultrasonic Hate” em 2001. Eles também estão disponíveis pelo site reverbnation.com.
Mondo Metal: Que bandas normalmente escuta?
Bryan Cegon: Eu praticamente escuto Metal antigo. Muito Slayer, Pantera, Zombie, Obituary, Grave, Unleashed, Fear Factory, Paradise Lost, My Dying Bride, Morbid Angel antigo, Amorphis antigo, Acid Bath e etc. Também gosto muito de Mindless Self Indulgence.
Mondo Metal: Mudando um pouco de assunto, quais são as primeiras coisas que lhe veem na cabeça ao se falar Brasil?
Bryan Cegon: Quando penso no Brasil, Sepultura é a primeira coisa que me vem à cabeça. Depilação feminina a segunda e Carnaval a terceira. O Sarcófago era do Brasil, não?
Mondo Metal: Muito obrigado por compartilhar suas experiências conosco. Desejamos-lhe sorte com seus novos projetos! Agora é hora do bom e velho recado à todos os seus fans do Brasil.
Bryan Cegon: Este é mehor conselho que posso dar pra qualquer metal: não tenham medo em tentar coisas novas e nunca abandonem suas raízes. Grandes artes nascem do sofrimento.
Ouça: Deadspawn