MONDO METAL

Christiano Gomes

No início do ano a banda paulista Desalmado passou por Belo Horizonte em um show onde dividiu o palco com ninguém menos que os reis do Death Metal mundial, os norte-americanos do Obituary. O show, como não poderia ser diferente, ficou marcado na memória da banda. De lá para cá o grupo lançou seu primeiro full-lenght, que teve a produção refinada do ex-Sepultura Jean Dolabella, gravou video-clipe, mudou o line-up e seguiu seu caminho na nada fácil estrada do grindcore no Brasil. O Mondo Metal conversou com a banda que falou sobre estes e outros assuntos como turnê européia, as novas músicas e a vontade de voltar à capital mineira para tocar com o Expurgo, banda considerada por eles (com todo mérito) como uma das maiores do país. Confira a entrevista exclusiva e entenda porque o Desalmado está pronto para se tornar uma das grandes bandas do grind nacional.

Mondo Metal: Antes de mais nada é um prazer falar com o Desalmado. Há muito queremos realizar esta entrevista!

Bruno Teixeira: O prazer é todo nosso, é uma grande honra para nós estar aqui no Mondo Metal!

Mondo Metal: Vocês lançaram este ano o álbum Desalmado, o primeiro full-lenght do grupo, produzido pelo ex-Sepultura Jean Dolabella. Como tem sido a receptividade do público cada vez que vocês tocam em uma nova cidade?

Estevam Romera: É estranho, porque nossa principal influencia é o grindcore, mas usamos vários elementos de thrash, death, hardcore, crust no nosso som. Então tem gente que vai ao show ou pega o disco pra ouvir esperando blast beat em 90% do disco. E não tem só isso. Então o pessoal se surpreende. Positivamente, o que é bom!

Mondo Metal: O Desalmado tem contrato com uma gravadora norte-americana, a Greyhaze Records (que detém os direitos sobre o catálogo da Cogumelo para os Estados Unidos). Como isso tem ajudado na divulgação da banda fora do país?

Bruno Teixeira: Tem sido muito importante o trabalho da Greyhaze Records, principalmente nos Estados Unidos. Ano passado a Greyhaze relançou o nosso EP “Hereditas” em vinil e agora eles lançaram o nosso disco em digipack. Eles fizeram uma divulgação bem legal do disco e do clipe. Os Estados Unidos é um mercado que poucas bandas daqui exploram, estamos planejando uma primeira tour nos EUA em 2013 e temos certeza que o apoio da Greyhaze vai ser muito importante para a realização desta tour.

Mondo Metal: Vocês já têm uma tour européia no currículo. Pensam em um novo giro pelo velho continente para breve?

Bruno Teixeira: Sem dúvidas! Já estamos planejando uma tour para o ano que vem, provavelmente menos dias de viagem e mais shows. A nossa primeira tour por lá mudou radicalmente a banda, melhoramos muito ao vivo e também na forma de organizar tudo que é referente ao Desalmado. A estrada é, sem dúvidas, a melhor escola para qualquer banda. Não adianta ter a melhor gravação do mundo se ao vivo a banda não tem pegada.

Mondo Metal: A gente sabe que não tem muito tempo que o CD saiu, mas vocês já estão compondo músicas novas para o próximo álbum ou ainda é cedo para pensar nisso?

Estevam Romera: Já sim! Na verdade a gente começou a compor antes mesmo do disco ser lançado. A gente tá sempre escrevendo alguma coisa na verdade. Quando a gente vai fechar um disco novo a gente só junta as idéias que estão espalhadas. Já estamos preparando um EP para o ano que vem. A gente quer poder ter um ritmo mais rápido de lançar material novo. Para uma banda como a nossa não funciona esperar 2 anos e lançar um disco com 22 músicas. Não sei se essa fórmula faz muito sentido no underground hoje. E também não é interesse nosso ganhar dinheiro com venda de disco. Então a gente quer soltar música nova com frequência e fazer o pessoal ver ao vivo. O disco em si virou um souvenir para quem gosta e acompanha a banda, como uma camiseta ou poster.

Mondo Metal: Houve uma modificação recente na formação do Desalmado, não? Isso alterou de alguma forma a estrutura da banda?

Caio Augusttus: Sim, houve a saida da baixista. Estruturalmente houve alteração, Bruno foi para o baixo e Estevam ficou na guitarra, com isso nos tornamos um quarteto oficialmente, não haverá quinto integrante. No final das contas tem funcionado melhor do que nunca.

Mondo Metal: A gente gostaria que vocês falassem agora um pouco sobre os clipes das faixas Todos vão morrer e Canibal social. Como foram essas produções e como a banda tem trabalhado esses conteúdos.

Estevam Romera: Acho que a resposta dessa pergunta tem relação com o que falei antes. A gente quer cada vez mais fazer vídeos mostrando a gente tocando. Quanto mais ao vivo, melhor. E quanto mais real, melhor. O clipe da ‘Todos vão morrer’ a gente teve a idéia numa quinta, decidiu filmar na sexta e filmou no sábado. O Desalmado não tem cruz invertida, corpse paint, nem corpo sarado e tatuado pra mostrar. O que a gente tem para mostrar é o que a gente toca e nosso som. Então a idéia é sempre mostrar a banda sem interferência nenhuma. Aqui em SP e outras capitais principalmente, o povo não vai mais em shows de underground. Especialmente quando não tem nenhuma banda de amigo tocando. Então nosso principal objetivo com os vídeos é chegar nessa audiência de internet e se mostrar uma banda interessante e real a ponto do cara sair do Facebook e ir ver nosso show. Não só o nosso, mas qualquer show. Tá cheio de banda legal no underground. E essas bandas ficam mais legais quando tem gente assistindo e curtindo o show.

Mondo Metal: A gente percebe que o Desalmado vem sendo conduzido de forma extremamente profissional e isso chama a atenção porque nem sempre os grupos têm esse cuidado. De onde vem isso? De vocês mesmos ou a gravadora tem influência também na parte gerencial da banda?

Ricardo Nützmann: Isso vem de nós mesmos, temos a preocupação de organizar tudo que está relacionado ao Desalmado, dividimos as tarefas, pensamos em metas e seguimos os cronogramas para não perdermos o foco dos nossos objetivos; é como uma empresa, se não for administrada com organização, fali. A Greyhaze ajuda muito na parte de divulgação e distribuição do material da banda.

Mondo Metal: O grindcore está muito forte hoje no Brasil. Já é possível falar em mídia especializada no gênero, gravadoras fortes e, consequentemente, grandes bandas. Quem vocês apontam hoje como grandes nomes do Grind nacional?

Caio Augusttus: Sinceramente, creio que o Brasil tem a melhor safra de bandas da história, isso pensando apenas do grindcore e metal extremo que é onde tenho conhecimento maior. Sobre midia especializada, sim, existem diversos blogs que passaram a ter uma grande representação nesse cenário e isso é bem legal, auxiliam inclusive no trabalho dos selos e divulgação de shows e afins. Sobre gravadoras, elas não existem mais, o “mercado” mudou, infelizmente essa safra veio dentro de uma nova realidade, porém, houve uma adequação natural por conta disso e agora há um periodo transitório natural, o legal disso tudo que na prática as bandas tiveram que vestir em definitivo a camisa do DIY e isso tem funcionado muito bem. Das bandas, não gosto de citar nomes, porém, os ultimos trabalhos do Facada, Test e D.E.R são muito bons e isso os colocam em destaque, o mesmo para o recente Homicide, ótima banda de Santa Catarina.

Bruno Teixeira: É bem isso que o Caio disse. As próprias gravadoras estão tendo que pensar e agir mais de acordo com a filosofia do “faça você mesmo”. Acho isso extremamente positivo, pois o foco fica maior na qualidade do material que é lançado. Nos anos 90 as gravadoras lançavam milhares de bandas sem muito critério, mais para atender uma demanda de mercado. Hoje em dia quem está no ramo, principalmente de metal extremo, é porque gosta e quer fazer um bom trabalho.

Mondo Metal: Vocês tocaram em março com os mestres do death metal do Obituary. Quais foram os maiores shows que vocês fizeram este ano?

Ricardo Nützmann: Sem dúvida o show com o Obituary foi um dos maiores eventos em que tocamos nesse ano, mas também tocamos em um dos maiores eventos de rock do estado de SP, o Araraquara Rock. Gostamos muito de ter tocado em um evento de desse porte, com um equipamento profissional e com uma boa produção.

Mondo Metal: Como foi a passagem por BH no início do ano com o Obituary, Acheron e Impurity?

Ricardo Nützmann: Foi uma grande experiência tocar em BH, onde nasceram grandes bandas do metal nacional, junto com o Impurity que faz parte da cena do metal mineiro, o Acheron e os mestres do Obituary, que é uma grande influência musical para nós. Foi uma grande honra poder tocar junto com Obituary!

Mondo Metal: A gente agradece a entrevista e espera revê-los em breve aqui em Belo Horizonte. Agora o espaço é de vocês! Valeu!

Bruno Teixeira: Nós que agradecemos o espaço! Como eu disse anteriormente, quem está neste meio é porque realmente gosta do que faz e o site é um exemplo disso! Esperamos voltar o mais cedo possível para BH, fazer mais amigos e tocar junto com os caras do Expurgo, uma das maiores bandas de grindcore do país. Vida longa do Mondo Metal!

Os álbuns da Greyhaze Records, e portanto do Desalmado, estão disponíveis no Brasil via Cogumelo Records.

Assista ao clipe da faixa Todos vão morrer

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