MONDO METAL

Uma resenha sobre os no-shows do Cro-Mags e do Sick Of It All

Frederico Borges, de Nova York, especial para o Mondo Metal

Em meio às controversas especulações a respeito da inauguração de um novo CBGB, Nova York sediou um festival celebrando a história do seu finado clube – ou o início de uma série de novos empreendimentos explorando este icônico nome. Durante quatro dias de julho 300 bandas tocaram em diversos lugares, conferências aconteceram, mostras de cinema, apresentações em plena Times Square, no Central Park etc, etc, etc. E, obviamente, o gênero que definiu a essência da extinta casa de shows nos anos 80 e 90 esteve representado. Para o bem ou para o mal.

Em um local a apenas alguns quarteirões do antigo endereço do clube que deu origem ao seu nome, o CBGB Festival teria duas noites dedicadas ao hardcore. Na primeira noite, tudo aquilo que se poderia esperar: uma apresentação regada a testosterona do Madball, o show do Agnostic Front culminando em uma apoteose catártica e todas essas coisas bonitas, típicas do gênero. O segundo dia caminhava para o mesmo fim até que, pouco depois do Vision of Disorder deixar o palco, um burburinho começa na área VIP e uma intensa movimentação de seguranças tem início. Em poucos minutos, todo o quarteirão é tomado por viaturas e ambulâncias e a casa é interditada pela polícia. “Temos uma situação aqui, alguém foi esfaqueado”, era o que se ouvia. Mais uma vez, tudo aquilo que poderia se esperar de um bom show – era como se a fase áurea do hardcore americano fosse emulada naquele momento. O clima de caos e de nostalgia estava no ar.

Dezenas de viaturas e ambulâncias fecham o quarteirão. Um clima de nostalgia contagiante.

O Cro-Mags, assim como o Sick Of It All, era uma das principais atrações da noite e teve o seu show cancelado por conta do incidente. A banda, além de ser famosa por ter elevado todo o gênero musical, então em algum ponto do caminho trilhado pelo Bad Brains, para patamares inéditos de porradaria, também é conhecida pelas rixas entre seus integrantes e constantes mudanças de formação. Não foi exatamente uma surpresa, então, quando as informações começaram a circular e foi constatada a presença de Harley Flanegan, um dos fundadores e ex-membro do Cro-Mags, na tal “situação”. Segundo relatos de pessoas presentes na área VIP, Harley teria aparecido no local com um passe de imprensa e uma faca. E após ficar berzerk, teria esfaqueado, agredido e mordido algumas pessoas – e tomado uma surra dos seguranças na sequencia. O saldo: três vítimas não fatais, incluindo o atual baixista do próprio Cro-Mags Michael Couls.

Se a nostalgia a essa altura já se transformava em indignação pelo cancelamento dos shows restantes, ficava ao menos um gostinho mais underground para ser contrastado com a ideia de se transformar o legado do CBGB em uma franquia bem maior do que estampas de camisetas. Afinal, existe coisa mais old school do que uma facada?