Christiano Gomes
O novo álbum do Clautrofobia, Peste, é certamente um daqueles que ao final do ano terão sobrado na peneira por onde vários outros vão chegar e passar. Peste é um álbum maduro, corajoso, que mostra a evolução musical do grupo e aponta a banda como uma digna representante do que há de melhor sendo produzido atualmente no Brasil. O Clautrofobia de hoje é uma banda que já se pode considerar entre as grandes do metal nacional, daquelas que viram referência para outras bandas ou que são costumeiramente citadas quando se fala em heavy metal brasileiro.
Algumas músicas se destacam como Nota 6,66 (nome que faz imediata referência à apuração das escolas de samba do nosso carnaval). Com mais de sete minutos – e de longe a maior música do álbum – Nota 6,66 é um samba-metal que lembra músicas como o electro-heavy-samba Chaos B.C., lançado como lado B no álbum Chaos AD; Rio, Samba e Porrada no Morro que abre o álbum Progress Of Decadence, do Overdose ou ainda Noise from Brazil, do mesmo álbum. Até mesmo a tradicional e conhecida música Brasileirinho, de Waldir Azevedo, entra como faixa incidental no meio da música. Cuícas, tamborins, pandeiros e guitarras, dão a tônica da faixa. A ideia da mistura de ritmos não é nova e em outros tempos trouxe severas críticas as bandas que se arriscaram na empreitada, mas esta talvez seja a forma do Clautrofobia romper as fronteiras e mostrar que a inevitável experimentação já faz parte da música pesada produzida no Brasil, assim como faz parte de bandas de outros países como Rússia, Iraque ou Israel que também incorporam elementos da cultura local em sua música.
As músicas do Claustrofobia seguem sendo um verdadeiro moedor de ossos. Em algums momentos parece um carro descontrolado descendo uma ribanceira íngreme a 200Km por hora, como na faixa Bicho Humano, onde a banda não economiza nos blast beats ou na própria faixa-título, que abre o álbum, mas em outros um carro que pisa no freio mas sem se esquecer que o motor é um potente e nervoso V8, pronto para retomar o giro a qualquer momento. É o caso da ótima Vida de Mentira, bem cadenciada, feita na medida para bater a cabeça.
Isso tudo já seria suficiente se o álbum não fosse todo cantado em português, certamente a mudança mais radical da banda nos últimos tempos. Cantar em português não é para qualquer um, poucas bandas soam bem na língua pátria, mas o Claustrofobia acertou na fórmula e a novas músicas em português são muito boas.
De gravação primorosa realizada em apenas uma semana, como a banda faz questão de registrar no encarte do álbum, Peste apresenta 10 músicas em pouco mais de 30 minutos e vem em formato digipack. A experiência internacional e os anos de estrada do quarteto paulista mostram qua a banda subiu mais um degrau no concorrido cenário da música pesada brasileira.
Claustrofobia
Álbum: Peste
Gravadora: Sangre
Nota: 9
Ouça a faixa 6,66
.
Maravilhoso de foda esse cd! Claustrofobia é uma das melhores, quiças, a melhor do brasilzão.