Christiano Gomes
Dois monstros sagrados do primeiro escalão do death metal mundial, com sólidas carreiras nas últimas décadas, colocaram neste primeiro semestre seus novos trabalhos nas prateleiras do mundo todo. Muitas expectativas foram depositadas nos novos álbuns de Morbid Angel e Deicide, mas nem todas foram exatamente satisfeitas. Nascidas na mesma cidade, Tampa, na Florida, as bandas parecem tomar rumos bastante diferentes com seus novos trabalhos, Illud Divinum Insanus e To Hell with God.
Após um hiato de oito anos sem nenhum álbum de estúdio, o Morbid Angel acaba de lançar sob muita desconfiança de fãs e imprensa especializada seu oitavo álbum, Illud Divinum Insanus. O grupo se arrisca ao apostar em um direcionamento musical polêmico, que encontra na variante eletrônica da música pesada sua melhor definição. Não que Illud Divinum Insanus seja um álbum de metal eletrônico, que definitivamente não é, mas é nítida a influência que este estilo teve na produção do novo trabalho da banda. Talvez a bateria de Tim Yeung, substituto de Pete Sandoval que não gravou o álbum para se submeter a uma cirurgia, soe em alguns momentos demasiadamente eletrônica, com batidas e bumbos muito automáticos, muito mecânicos. Junto a isso, Illud Divinum Insanus marca também a primeira aparição em estúdio do guitarrista Destructhor. Paralelo como este nós já tivemos no Brasil, quando o Sarcófago lançou o ótimo The laws of Scourge, considerado “eletrônico demais” por muitos ou ainda quando os também mineiros do Sextrash lançaram Funeral Serenades.
Faixas como Profundis – Mea Culpa, Omni Potens ou Too Extreme!, que por infelicidade são justamente as 3 primeiras do álbum, assustam muito o ouvinte ao se apresentarem demasiadamente eletrônicas. Soam como se a banda fosse uma espécie de filial do Rammstein. Sim, a banda alemã me agrada, mas ouvir um dos maiores nomes do death metal mundial fazendo o mesmo que os alemães não desceu bem! Definitivamente. Existo Vulgoré e Blades of Baal vêm na sequência para tirar um pouco da má impressão das três primeiras faixas, mas I Am Morbid volta a decepcionar, seguida por 10 More Dead, que volta a ser pesada. E vamos até o final do álbum mesclando faixas com levadas mais eletrônicas como Destructos vs th Earth ou Radikult e outras no melhor estilo Morbid Angel como Nevermore ou Beauty Meets Beast, mas ainda assim, muito, mas muito distantes dos álbuns clássicos do início da carreira como os fabulosos Altars of Madness ou Blessed Are the Sick.
Mas o Morbid Angel terá uma chance de ouro de mostrar ao público brasileiro que apesar do fraco Illud Divinum Insanus, a banda continua como um dos ícones do estilo e ainda merece respeito. O grupo faz duas apresentaçãoes no Brasil em setembro e toca para paulistas e mineiros. Em Belo Horizonte o show será no tradicional Festival Setembro Negro, ao lado de Belphegor, Ragnarok e Sarcasmo. Seja como for, vale a pena conferir!
Para quem se decepcionou com o novo álbum do Morbid Angel uma boa pedida é To Hell with God, décimo álbum de estúdio do Deicide. To Hell with God mostra toda a agressividade da banda norte-americana em 10 faixas extremamente pesadas e rápidas. Glen Benton continua um monstro nos vocais vociferando seus temas satânicos como sempre (e como ninguém). Impossível não citar também o espetacular trabalho do baterista Steve Asheim, que com sua técnica e velocidade ajudou a fazer do novo álbum um dos grandes lançamentos do ano. Pode-se dizer que To Hell with God é linear, e que fique bem claro que isso não é uma ofensa e sim um elogio, pois as 10 músicas apresentadas estão todas no mesmo patamar. Todas dentro do melhor que o death metal pode oferecer e nada que não se esperasse de uma banda da grandiosidade do Deicide.
O álbum é todo muito bom, mas apesar do mesmo nível, é possível destacar algumas músicas como a faixa-título To Hell With God que abre muito bem o álbum. Conviction e sua abertura monumental é talvez o tema mais próximo do que poderia ser considerado thrash metal, mas não se engane, pois o novo álbum do Deicide é death metal em seu melhor momento e ponto final! Mas o flerte com o thrash metal volta nos primeiros riffs de Angels of Hell, outra faixa excelente que se destaca em meio à massa sonora de To Hell With God, uma verdadeira trilha sonora do fim do mundo. Fechando o álbum, temos a espetacular How Can You Call Yourself a God. Não por acaso esta é uma das faixas que têm sido incluídas nos set-lists da banda, como no recente London Deathfest, festival na capital inglesa que reuniu uma dezena de bandas de death metal e que contou com a cobertura do Mondo Metal que esteve presente com seu correspondente europeu Eduardo Piloni.
To Hell with God é um dos grandes lançamentos do ano! Mostra uma banda que soube se manter fiel ao estilo e que, acima de tudo, respeita seus fãs. O álbum honra a história da banda e não fica nada a dever aos seus anteriores. Extremo e pesado, To Hell with God vai entrar para o hall dos grandes álbuns do estilo. Diametralmente diferente, Illud Divinum Insanus é um álbum que poderia ser facilmente dividido em dois (seria até melhor): o bom álbum com seus temas death metal, ainda que bem distantes dos clássicos da banda e o álbum “que m**** é essa?”, com seus esquisitos e improváveis temas eletrônicos.
Morbid Angel
Álbum: Illud Divinum Insanus
Gravadora: Seasons of Mist
Lançamento: Hellion Records
Nota: 3
Deicide
Álbum: To Hell With God
Gravadora: Century Media
Lançamento: Shinigami Records
Nota: 9