Oswaldo Diniz
2013 está aí! Nos despedimos do ano marcado por pseudo alvissareiros do apocalipse, julgamentos que podem definir novos rumos na política brasileira, ressurreição de gigantes do futebol, sem falar do que não consigo lembrar agora. Para nós, headbangers, 2012 não pode ser considerado um ano ruim, de forma alguma. Várias bandas veteranas estouraram o balaio na cidade, vindo a BH pela primeira vez. Na saideira do fim do mundo Maia, mais duas esquadras corroboraram tal afirmativa. Direto das terras do Tio Sam, as lendas Vital Remains e Malevolent Creation compareceram à cidade para completar a Sounds Of Extreme Tour, que desde janeiro passado vem espalhando death metal pelo globo terrestre. Como headliner, nossos compatriotas de Porto Alegre, talvez a maior referência nacional do momento, os malditos do Krisiun. A apresentação ocorreu na sexta-feira, 14, no Music Hall.
Como de praxe, primeiro o público. Fraco, aquém da relevância do evento, sim. Entretanto, pelo menos visualmente, deu a impressão de que a casa estava com números melhores de outros shows por aqui, como Absu e Exhumed. Claro, depois do Cavalera´s Conspiracy, quando nunca vi tanto cabeludo (ou ex´s) no local, fica sempre uma expectativa de que a imagem se repita, com headbangers lotando o MH. Mas perco logo a esperança quando lembro que muitos dos que foram ver Max queriam apenas um revival, não acompanham mais a cena e estavam ali mais por pilha mesmo…
A primeira representação do peso a subir ao palco foi a Vital Remains. Ou quase. Isto porque a formação de hoje está mais para uma colcha de retalhos do que o verdadeiro enxoval do capeta. Da formação original, apenas o fundador Tony Lazaro (guitarra), Gator Collier (baixo) e Jack Blackburn (bateria) compõem o escrete vigente. Bill Hudson (guitarra) e Brian Verner (vocal) são os músicos contratados para tocar nos shows. Não obstante o detalhe, foi possível ouvir alguns petardos. Uma pena não ter rolado nada de muito antigo, como porradas do Let Us Pray, um dos melhores trampos. Logo na terceira música, Lazaro brincou e fez a intro de War in Paradise, mas ficou só nisso. Ainda não se sabe o motivo, mas o set foi baseado apenas em dois discos, Dechristianize e o excelente Icons of Evil – play que tem uma das capas mais bacanas do death metal!
Independentemente do descaso com os primórdios da carreira, o lance foi positivo. Claro, tiveram alguns “peidos na farofa”. O pior deles, na opinião deste jornalista, foi quando Brian sugeriu um Wall of Death. O vocalista pediu a Bill que, apesar do nome, é brasileiro, de São Paulo, traduzisse o desejo. Mas o tal “Muro da Morte” é uma invenção deste século, algo pelo menos 25 anos mais novo que o próprio death metal. Uma coisa é a molecada do thrash, como em shows de Exodus e Soulfly, empolgar e topar a parada. Mas quando o lance é mais extremo, gente mais velha está na mira e a coisa não fica bem. Resultado da demanda: uns 20 gatos pingados atenderam ao pedido e fizeram um muro, no máximo, das lamentações…
Mas Brian compensou a falha quando, durante a saideira, canta Dechristianize no gargalo, bem próximo do público e depois, literalmente, vai pra galera. Nas passagens mais rápidas, a roda girava e o baixinho-tatuado-que-parece-o-Dani-Filth berrava no meio. Bacana demais! Depois ele volta ao palco, faz um stage diving, tira foto e retorna para seus colegas, cantando os últimos minutos da música segurando a mão de um fã. Uma atitude digna de uma apresentação fudida, apesar dos pesares, belo show!
Depois era a hora de outra representação da música extrema debutar em BH, a mais esperada da noite, pela maioria. Phil Fasciana, Gio Geraca (guitarras), Gus Rios (bateria), Jason Blachowicz (baixo) e Brett Hoffmann (vocal) mostraram à cidade que o Malevolent Creation, após cerca de 25 anos de existência, ainda tem muita lenha pra queimar. Diferentemente de Vital e Krisiun, que fazem aquele (salutar) death metal calcado na velocidade, o quinteto da Flórida, talvez pela sua origem, executa uma parada cheia de cavalgadas e momentos inspirados no thrash. Música para dançar, do nosso jeito, claro, mas era impossível não sentir uma horda de espíritos tomar conta do corpo e nos levar para outros patamares. Deu o maior orgulho ver a roda girar, concomitantemente, pacífica e beligerante, o pau quebrou com estilo. Mas não era por menos, já que ouvíamos maravilhas do cancioneiro extremo, como Multiple Stab Wounds, Born Again Hard e a portentosa Slaughter of Innocence. Puta chapação sonora do cacete, nem precisava beber (ou não) para fazer a cabeça legal. Durante Coronation of Our Domain, eis que ressurge o insatisfeito Brian Verner para novamente pular no público e moshar com a mineirada. Como retribuição, a magnética Infernal Desire foi dedicada aos colegas do Vital Remains. Tudo muito bem capitaneado pelo frontman Brett Hoffman que, dentre idas e vindas, continua como representante vocálico máximo da banda. Por tudo que o som dos caras proporcionou, em termos lúdicos, dá pra dizer que foi a melhor apresentação da noite.
Mas não era a última. Em todos os shows, salvo aqueles festivais nos quais trocentas bandas tocam no mesmo dia, a atração final sempre é considerada, se não a melhor, a mais relevante. Tremenda satisfação saber que grupos do porte dos supracitados abriram, durante todo o ano na tour, o show do Krisiun. Mérito único e exclusivo para Alex Camargo (vocal, baixo) Max e Moyses Kolesne (bateria e guitarra). Dá pra dizer sem pestanejar que o trio de irmãos dos Pampas é o grande nome da atual cena extrema brasileira. A cada disco lançado, uma aula de ultra velocidade, permeada em riffs e urros diabólicos. Resultado de mais de 20 anos apoiando incondicionalmente a cena, sempre carismáticos e sem tirar onda com ninguém.
Kings of Killing abriu a sessão de celeridade absurda no palco. É queimar no fogo, mas não dá pra deixar de falar sobre o quão afinados estão os gaúchos. De shows das antigas no Barreiro, em festivais mais “simprões” , até o quadro vigente, muita evolução foi percebida. Mas desde os primórdios, os caras davam a entender que se destacariam da maioria. Os berros de Alex, mais as seis cordas inflamadas de Moysés e as baquetas do monstro Max só melhoram com o tempo. Set focado nos trampos mais recentes, porém com espaço reservado para aquelas que todos querem ouvir desde o começo, como Hatred Inherit e Black Force Domain, este último que encerrou a apresentação. Mais uma vez, os irmãos demonstraram respeito e admiração com Belo Horizonte e o produto metálico criado aqui, reverenciando bandas que os inspiram até hoje.
Quero deixar aqui meus parabéns ao pessoal da Cogumelo, MS BHz Comunicação e Tumba Produções. Não é demagogia, babação de ovo ou coisa parecida. A felicitação é simplesmente porque praticamente todas as bandas de música extrema que tocaram em BH, neste ano e nos anteriores, foram contratadas por eles. Mesmo com pouco público em algumas oportunidades, a chama continua acesa, as apostas no headbanger da cidade são feitas sem desconfiança. A pergunta é: até quando? Independentemente da resposta, janeiro próximo tem Blaze Bayley, Tankard, e a lenda Destruction. Espero que você compareça em algum deles para fortalecer a cena, aumentando a possibilidade de assistirmos outras bandas legais que podem tocar por aqui. Heavy 2013!
Malevolent Creation fez um dos melhores shows de 2012!