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Cavalera Conspiracy e Black Label Society: temporada de peso em BH

Posted by Redação Mondo Metal On November - 29 - 2012

 

Lucas Buzatti

 

Enquanto a imponente fila de headbangers dobrava a esquina da Avenida do Contorno, irritantes pingos d’água prenunciavam uma pequena pegadinha do Mallandro dos céus naquela sexta-feira, 16 de novembro. A aguaceira caiu de repente, dissipando muitos camisas-pretas que correram para se esconder, enquanto alguns guerreiros do metal permaneciam de pé, incólumes, como sentinelas. Cinco minutos depois, a chuva cessou, o céu se abriu e a fila, aos poucos, formou-se novamente. O que veio a partir daí foi uma noite histórica, que marcou a volta de Max Cavalera aos palcos de Belo Horizonte, com o irmão Iggor, após 18 longos anos. Com um show memorável, o Cavalera Conspiracy marcou o início da temporada de peso no Music ‘Hell, que recebeu Absu e Máster, no sábado, 17, e Black Label Society, na quarta-feira, 21.

 

A ansiedade pelo show do Cavalera Conspiracy em BH era grande e esquentou no dia do show, quando as datas da banda em Curitiba e São Paulo foram canceladas de supetão. O Mondo Metal se apressou em contatar a produção do evento, que garantiu o show na capital mineira, tranquilizando os headbangers e dando fim a especulações. Mas quem assistiu ao show por aqui constatou a improbabilidade de um cancelamento surpresa: para os Cavalera, não era somente um show, mas uma viagem de família, em que mataram a saudade da tia e de antigos amigos e puderam rever as ruas de Santa Tereza, onde tudo começou.

 

Com o guitarrista Marc Rizzo e o baixista Tony Campos, Max e Iggor comandaram, por uma hora e meia, uma grande festa do metal, que começou com três pauladas do CC: Warlord, Torture e Inflikted. Depois, foi a vez de um gigantesco moshpit eclodir no meio da pista com a execução de Refuse/Resist, que começou o revezamento entre músicas próprias, como Terrorize, Killing Inside e Blunt Force Trauma, e clássicos do Sepultura – Territory, Arise, Dead Embryonic Cells, Desperate Cry, Propaganda e Attitude.

 

Em meio à multidão, um metaleiro resumia bem a sensação de quem não chegou a assistir o Sepultura com Max: “precisei ver seis shows do Sepultura para ver um show do Sepultura mesmo”. Que Derrick Green nos perdoe, mas a voz de Max Cavalera é insubstituível. Pode ter antipatia do cara, de sua esposa, discordar de suas atitudes e de sua postura, achar sua aparência atual bizarra, culpa-lo pelo “fim” da banda – tudo bem, direito seu. Mas negar que o Max é dono de um dos guturais mais marcantes do thrash metal é praticamente sandice.

 

Mais que isso, Max sabe fazer música pesada, assim como Iggor. E a ideia, pelo que parece, é perpetuar esse legado familiar – prova disso é a recorrente participação de Iggor Cavalera Junior e Richie, filho e enteado de Max, que se repetiu em BH, na música Black Ark. A ideia parece ser transformar os Cavalera numa espécie de Família Gracie do metal, tendo o CC como um ponto de encontro garantido para as novas gerações, uma espécie de centro de treinamento para os próximos músicos de metal da família.

 

Para deixar o show de BH ainda mais ímpar, Max convocou Jairo Guedz, o primeiro guitarrista do Sepultura, para tocar o hino Troops of Doom, do qual é co-autor. Impecável, a jam enlouqueceu os fãs, que já sabiam o que estava por vir: como não poderia deixar de ser, o grande hit Roots Bloody Roots fechou o setlist do show. Camisa do Atlético em punho, Max agradeceu a todos e sumiu rapidamente, frustrando fãs esperançosos que se amontoavam no acesso ao camarim. No ar, o zumbido dos ouvidos e a satisfação em ver Max Cavalera, enfim, voltar às suas raízes.

 

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Cinco dias depois do Cavalera Conspiracy, lá estavam os headbangers ocupando a avenida novamente. Além da trégua da chuva, havia outra curiosa diferença na fila: dessa vez, as camisetas de banda eram menos heterogêneas e a logo motoqueira do Black Label Society se repetia em várias blusas e coletes, prova cabal de que a banda de Zakk Wilde já conquistou um público fiel e devotado. Fenômeno das seis cordas, o pupilo de Ozzy Osbourne (conhecido pela aptidão em descobrir e projetar grandes guitarristas) mostrou pela primeira vez na capital mineira a qualidade de sua banda, que já soma 11 anos de estrada.

 

Em BH, o grupo contou com uma estrutura de som invejável, com direito a uma parede formada por 16 amplificadores Marshall, o que talvez justifique o atraso de duas horas do show. Afinal, Zakk Wilde é, sem dúvida, um grande profissional. O músico não é lá dos mais simpáticos e falantes, mas faz seu trabalho com maestria, cantando e até tocando piano com a mesma seriedade e foco com que tira solos alucinantes de sua guitarra. Além de contar com um time diferenciado de bons músicos: Nick Catanese (guitarra), John DeServio (baixo) e Chad Szeliga (bateria).

 

Sem muito papo, Wilde abriu o show com Godspeed Hell Bound, do último disco de inéditas da banda, Order of the Black, de 2010. Cantada em uníssono pelos headbangers que enchiam novamente o Music ‘Hell’, a música antecedeu outra pedrada, Destruction Overdrive.  Não demorou muito para chegar um dos momentos mais aguardados dos shows do Black Label Society, quando Zakk Wilde deixa a guitarra de lado e senta-se ao piano para tocar In This River. A melancólica balada foi composta em homenagem a outro medalhão da guitarra e ícone do metal, Dimebag Darrel, assassinado em 2004.

 

Orgulhoso, Wilde apresentou sua banda e brindou a todos com uma cerveja sem álcool (ele foi diagnosticado com uma rara doença genética no sangue em 2009 e segue em tratamento). O Black Label Society ainda destilou músicas simbólicas, como Overlord, The Blessed Hellride e a trinca que finalizou o show: Suicide Messiah, Concrete Jungle e Stillborn. Aliviando muitos fãs, o tradicional solo de guitarra, repletos de “gritos” e viradas, também teve espaço garantido. Enfim, um show para fã nenhum botar defeito.

 

O ogro loiro do metal se despediu, levando as duas mãos ao peito como um gorila, em cumprimento ao público mineiro. Meio redneck e mal encarado demais, mas totalmente competente. Esse é Zakk Wilde.

 

Set-list Cavalera Conspiracy
Warlord
Torture
Inflikted
Refuse/Resist
Sanctuary
Terrorize
Territory
Killing Inside
Blunt Force Trauma
Black Ark
Arise / Dead Embryonic Cells
Desperate Cry / Propaganda
I Speak Hate
Attitude
Troops of Doom
Roots Bloody Roots

 

Set-list Black Label Society
Godspeed Hell Bound
Destruction Overdrive
Bored to Tears
Berserkers
Bleed for Me
The Rose Petalled Garden
Piano Solo
In This River
Forever Down
Guitar Solo
Parade of the Dead
Overlord
The Blessed Hellride
Suicide Messiah
Concrete Jungle
Stillborn

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