Thursday, November 21, 2024

Master e Absu em BH: caos em meio ao caos

Posted by Redação Mondo Metal On November - 29 - 2012

 

Oswaldo Diniz

 

Os headbangers de Belo Horizonte ainda se recuperam do caos sonoro instaurado na cidade, no fim de semana passado. Tudo começou na sexta-feira, 16, quando Max Cavalera, após 18 anos, retornou ao seu berço natal para apresentar o que ainda sobra de Sepultura na realidade – entenda Cavalera´s Conspiracy. Não obstante o fato histórico, foi na noite seguinte que o público teve um dos melhores shows do ano por aqui. Claro, música extrema. As bandas norte-americanas, Master e Absu, compareceram ao Music Hall para destilar composições sui generis do death metal.

 

Se na sexta a casa estava lotada, no sábado o público era inversamente proporcional. Os mesmos gatos pingados de sempre, que ajudam como podem na manutenção dos grandes shows na capital. Nunca cansarei de enaltecer o brio e a garra desses, na maioria trintões, quarentões, que sempre estão com suas roupas pretas, nem tão sujas hoje (talvez a esposa lave), mas já com as rugas profanas no rosto, cabelos agrisalhando – ou desaparecendo – presentes inevitavelmente dados pela vida. São estes caras que movimentam a cena, indo aos shows e acompanhando seus ídolos de décadas. Quantitativamente pouco, mas sobrando em qualidade. All hail…

 

Antes dos shows começarem, claro, o comentário que imperava lá fora era sobre o evento da noite anterior. Opiniões divididas, paradigmas embasados,  temperados com o mais puro recalque de longa data, predominavam nas rodinhas. Mas uma ideia foi coletiva. Era impressionante como surgiram bangers para assistir a Max e Cia, se metade desse público comparecesse sempre às apresentações de metal na cidade, putz, mais bandas bacanas tocariam. Uma pena lamentar que o oba-oba existe em todos os lugares – claro, salvaguardando aqueles que não tinham grana para arcar com os dois dias e foram obrigados a escolher um. Parcela que não acredito ser muito grande.

 

Terminados os desabafos de praxe, vamos à pancadaria. Se Lemmy Kilmister tivesse nascido no leste europeu, e fosse um pouco mais “evil”, provavelmente ele seria o fundador do Master. Isto porque Paul Speckmann (baixo, vocal), Zdeněk Pradlovský (bateria) e Alex Nejezchleba (guitarra) não tiram o pé do freio e abusam da velocidade. Com a faixa que leva o nome da banda, teve início uma sessão que mais remete a uma tortura chinesa inversa: não a gota que pinga na testa do indivíduo paulatinamente, até o infeliz perder a sobriedade. O camarada é jogado direto no lago Guanqiao, um dos mais poluídos do país “amarelo”. Como resultado, um delicioso afogamento sonoro proporcionado pelo trio, composto por um tcheco, um eslovaco e o líder Paul, americano que mora na República Tcheca há alguns anos.

 

Judgment of Will mostra como o baterista de nome esquisito estava disposto a provar a resistência dos bumbos. Um repique constante que fatalmente ordenava o pescoço a movimentar-se freneticamente. Interessante que, no final da música, uma das cordas de Paul arrebentou-se e o barbudo ficou a ver navios,  o roadie não estava por perto. Era engraçada a cara de desespero do já coroa. A porrada seguiu sem baixo, depois, Zdeněk improvisou um considerável solo até que o problema resolvesse.

 

Bacana também citar que os caras não estavam apenas interessados em tocar death metal à velocidade da luz. Em dois momentos os músicos faziam pequenas jams, cada um explorando o instrumento sem muita preocupação com o peso, que naturalmente era presente. Neste ano foi lançado mais um disco da banda, The New Elite. Mas não dá pra dizer que era uma turnê de divulgação do trampo, apenas uma canção foi executada – Smile as You´re Told. Assim como outras esquadras épicas que debutam em BH, o set permeou nos discos mais emblemáticos, especialmente o primeiro, homônimo. Que sirva de exemplo The Unknown Soldier, que parece ter ficado mais rápida ao vivo, talvez reflexo do novo século. Petardo maravilhoso. Pay to Die encerrou um puta show de death metal, rápido, coeso e visceral. Vale destacar a postura de Paul, vibrando mais que o normal e fazendo caras e poses de quem realmente curtia o que estava tocando.

 

Era chegada a hora da atração principal. Após uma especulação anos atrás, e o cancelamento de um show em 2012, eis que o trio maldito do Texas aportava em paragens mineiras. Pareceu uma gestação de elefante o tempo de espera dentre o evento anunciado e a data em questão. E não era por menos. Russ R. Givens (Proscriptor McGovern, bateria/vocal) Paul Williamson (Ezezu, baixo/vocal) e Matt Moore (Vis Crom, guitarra) compõem uma amálgama violentamente psicodélica que navega entre death, black e thrash metal. Um estilo que eles gostam de nomear como “Metal Oculto e Mitológico”, por causa do envolvimento do fundador, Proscriptor, com o Ocultismo e a mitologia antiga – celta, suméria e mesopotâmica.

 

E logo de cara uma porrada pra mostrar que ninguém estava de brincadeira. Apzu, do maravilhoso Sun of Tiphareth, abriu o concerto com seus mais de onze minutos muito bem executados. Bacana os caras lançarem um som desse porte já na entrada, enquanto os instrumentos são testados a posteriori. A seqüência também foi a mesma do Tiphareth, Feis Mor Tir Ná N´og, quem dera se o disco fosse executado na íntegra. Mas foi bom também não ter acontecido, pois o repertório do Absu é lotado de maravilhas do cancioneiro extremo. Proscriptor saúda o público mineiro, com o mesmo timbre de voz que canta, acintosamente esganiçado. E não estamos falando aqui de um reles movimentador de caixa, pratos e baquetas. O gringo domina muito bem o kit, com variações precisas, equilíbrio cirúrgico entre o diafragma e os bumbos, deve exigir muita prática conciliar a prática de baterista com a voz. Mesmo se não cantasse, o cara já era foda. Não é por amizade que ele fez audição com o Slayer, antes do mestre Lombardo retomar o posto do qual nunca deveria ter saído. No sábado, durante todo o espetáculo (sim, foi mesmo) o baterista dividia a função de vocalista com Ezezu – que a cumpria com excelência.

 

Assim como o Master, apenas um tiro do mais recente disco, Abzu (2011) foi dado – Earth Ripper. Assim como em músicas de álbuns anteriores, Proscriptor demonstra sua admiração pelo Sárcofago, já que os gritinhos do início remetem aos que Wagner dava com sua banda, ainda nos anos de 1980. Swords and Learther e Morbid Screams fizeram este jornalista voltar quase dez anos, quando apresentava um programa e tocava música extrema em uma rádio comunitária, que só pegava em dez quarteirões do bairro e tinha, em média, seis ouvintes “true”.

 

Em vários momentos, Proscriptor dava a entender que estava muito empolgado com a apresentação. Subia no kit, falava algumas coisas ininteligíveis, mas sempre de forma enfática, vibrante.  Não sei se foi impressão minha, mas achei que, durante boa parte do show, a guitarra estava um tom abaixo do normal. Coincidência ou não, The Third Storm of Cythraul, o terceiro disco deles, tem o mesmo detalhe. E foi deste álbum que saiu um dos melhores momentos: Highland Tyrant Attack, um tirambaço cheio de passagens rápidas, variações e um final apoteótico. Após um rápido intervalo, Pillars of Mercy e Never Blow Out the Eastern Candle encerram o set de forma estonteante.

 

Muito se fala sobre uns trampos bem boyolas que Proscriptor fez nesta década. Uma parada eletrônica, cujas fotos de divulgação fariam Clodovil revirar no caixão e ficar com vergonha de ter sido uma biba do mundo fashion. Não obstante o som ser uma porcaria mesmo, quem se ateve a esse colorido detalhe perdeu a hecatombe negra que o Absu trouxe para o público. Levando em consideração apenas a apresentação, arrisco a dizer que foi o melhor show do ano, até agora. Vamos aguardar o que o Vital Remains vai aprontar, no próximo dia 14 de dezembro.

 

Master
1 – Master
2 – Shoot to Kill
3 – Judgement of Will
4 – Broken Promise
5 – Submerged in Sin
5 – Smile as Your Told
6 – Jam
7 – Unknown Soldier
8 – Cut Thru the Filth
9 – Remorseless Poison
10 – Pay to Die

 

Absu
1 – Intro/Apzu
2 – Feis Mor Tir Ná N´og
3 – Night Fire Canonization
4 – Earth Ripper
5 – The Winter Zephyr
6 – Morbid Scream
7 – Intro/Manannán
8 – Vorago
9 – Swords and Leather
10 – The Coming of War
11 – Highland Tyrant Attack
Encore
12 – Tara/Pillars of Mercy
13 – Never Blow Out the Easter Candle

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3 Responses to “Master e Absu em BH: caos em meio ao caos”

  1. Felipe says:

    ei ! o Paul Speckmann é americano, não do leste europeu. Ele se mudou pra Republica Checa faz uns anos.

  2. Obrigado pela observação Felipe. A informação já foi corrigida!

  3. Mário Pescada says:

    “Se Lemmy Kilmister tivesse nascido no leste europeu, e fosse um pouco mais “evil”, provavelmente ele seria o fundador do Master”: falou tudo! Dois ótimos shows.

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